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тιago, 18 anos. Um rapaz como os outros que encontra demasiadas coisas por entre as coisas que devem ser notadas. E este é um espaço meu, entre todas as outras coisas.


 


between.




Quarta-feira, 31 de Outubro de 2012

Dyk.

 (Dyk: mergulhar, em sueco)

 

Deram as mãos e saltaram juntos. Os dedos da mão esquerda dela nos da mão direita dele. Agarrados. Ela confessara-lhe que tinha algum medo. Não lho dissera, mas tinha-o porque sabia de mortes naquele lugar quase remoto. Soltou um grito no momento em que ele concluiu repentinamente a sua contagem decrescente que começara num seco três. Ele planeava naquele dia conseguir seduzi-la e levá-la para a cama. Ou para a parte de trás do carro que não pedira emprestado ao pai naquele dia, e do qual ele só sabia conduzir por imitação. Não tinha a carta de condução. Saltaram diretamente para a água. Explodiram à tona, num forte espasmo da corrente do rio. Lentamente imergiram com o impacto e logo depois voltaram à superfície para respirar, sobretudo porque os seus corpos magros não eram densos o suficiente para irem ao fundo. Ela arrumou os seus cabelos longos da frente dos olhos e, tremendo de nervosismo e de frio, a temperatura da água contrastava com a do seu corpo, puxou-o para ela. Ele beijou-a de imediato, como se a paixão o movesse de repente a fazer aquilo. Ela pôs os seus braços em volta do seu pescoço e deixou-se ser beijada. Dos seus lábios, ele desceu. O pescoço, os ombros. A cada beijo, ela sentia-se tentada a fechar os olhos. A deixar que ele domasse a fera que era o seu coração. Aquela hipnose estava prestes a conquistá-la quando notou um ruído na vegetação. Abriu os olhos, e pensou em sair dali. Uma mordidela dele no seu pescoço fê-la recuar. Dois segundos depois o barulho intensificou-se, como se mais próximo, e ela esforçou-se para não achar que eram passos. Porém, ele também ouvira. Perguntou-lhe, como se ela pudesse saber, o que era aquilo. Ela abanou com a cabeça e disse, com os olhos assustados, que não fazia ideia. Ele perguntou-lhe se ela queria sair dali e ela confirmou. Voltaram para terra, que logo lhes sujou os pés de castanho-escuro, preto e algum cinzento. Tinham toalhas no carro, assim como o resto das suas roupas, e podiam secar-se noutro sítio qualquer. As árvores naquele sítio nem deixavam que o sol tocasse demasiado o chão, pelo que secarem-se noutro sítio até que fazia sentido. Ele estava tão assustado como ela, mas não o mostrava. Ambos tão apavorados que nem se davam conta de que os sons que notaram já tinham parado. Nem disso, nem da mulher vestida de branco que permanecia na outra margem imóvel desde há instantes, justificando o fim dos sons que ouviam, visto que já ela estava parada. Ela olhava-os enquanto eles entravam no carro e iam limpando freneticamente o cabelo com uma toalha cada. A mulher trazia nos braços um pesado bloco irregular de granito, amarrado à sua cintura por uma corda pensada resistente. Quando ele estava prestes a pôr a chave na ignição e a ligar o carro, escutou-se no rio uma grande chapa na água, como se estivessem a ouvir o mergulho que os dois tinham dado, juntos, minutos antes. Olharam para de onde lhes tinha parecido ouvir aquilo e aperceberam-se de grande agitação na água, assim como de uma silhueta humana, aparentemente a afogar-se. Tornaram a sair do carro e ele disse que ia lá. Ela não o tentou impedir, e simplesmente decidiu ir com ele também. Mergulharam, um de cada vez, ele primeiro, ela logo depois, e seguiram a nado até ao outro lado. A movimentação na água era menor e eles perceberam que quem quer que fosse que estivesse ali se estava mesmo a afogar. Mergulharam o mais fundo que conseguiram, e, na água turva, onde brilhavam grãos de areia em suspensão, viram a mulher. Seguiram para ela. O rio era mais profundo naquela zona e a mulher parecia estar a ser engolida por um abismo. Eles apressaram-se e mergulharam um pouco mais até chegarem à mulher. Ele agarrou a mão dela e tentou puxá-la e a todo o seu peso, sem dar conta do bloco que estava agarrado à sua cintura. Esforçou-se, e, com a ajuda da namorada, conseguiram puxá-la um pouco para cima. Começavam a sentir a necessidade de respirar. Impingiram nos seus músculos alguma mais força e puxaram-na ainda mais para a superfície. Quando a luz já era mais intensa, ela reparou na corda que pendurava o peso do granito ao corpo já inconsciente da mulher, e tentou tirá-lo, mas sem sucesso. Teve de ir respirar, não aguentava mais. Quando se preparava para voltar a mergulhar, não viu mais o seu rapaz a puxar a mulher que se afogara, mas sim ela, de olhos abertos postos nela, com uma expressão fria, agarrada a ele a puxá-lo para o fundo, enquanto ele se debatia sem sucesso, por entre gritos mudos, para se soltar daquela assombração. Então a sua namorada não se deixou parada e mergulhou novamente mais fundo, agora para salvar o seu amor e não mais aquela mulher. Não tinha força suficiente para o fazer embora tentasse com tudo o que podia. Tentou arrancar a mão da mulher do seu namorado, mas não conseguia, enquanto o olhar dele se ia desvanecendo por falta de oxigenação. Ela queria chorar por todo aquele terror e esquecia-se que a mulher tinha duas mãos. E só se apercebeu disso quando ao seu tornozelo se amarraram cinco dedos brancos e pálidos que a puxaram para o fundo do rio.


left by тιago às 01:50
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De anne a 3 de Novembro de 2012 às 22:29
fomos certamente programados para ter medo do medo.


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