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тιago, 18 anos. Um rapaz como os outros que encontra demasiadas coisas por entre as coisas que devem ser notadas. E este é um espaço meu, entre todas as outras coisas.


 


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Segunda-feira, 15 de Abril de 2013

IV

Abençoado seja o sol que nos nutre as carnes, se não de mais nada, de luz e calor. Pego numa singela cadeira de plástico branco, guardada para o tempo de verão num canto da casa onde não estorvasse nem a vista nem a passagem, não esquecida mas desnecessária até então, e levo-a pela mão direita ao jardim. Não só pelo pesar seu me chega apenas uma mão, mas também pela obrigatoriedade de na esquerda ter já carga. Levo um livro. Memorial Do Convento. Não minto se disser que ia a cadeira mais leve. Pelo menos, com certeza, na vontade. Mas destro tem naturalmente mais força na mão direita e, no sentir, por lá se acha menos o peso. Porém, deixemos essa física na utilidade das balanças.
Escolho no jardim um lugar pacato, sendo que pacato todo ele o é, onde a sombra não seja em demasia e onde o sol motive a leitura. Entre as duas tangerineiras, logo a sul do grande pinheiro que vai escondendo, sobretudo ele mas outras árvores também o fazem, a casa onde moro, pouso a cadeira. Fabuloso o que se ouve, só cantar de pássaros e folhas que se roçam na aragem, barulho nenhum. Sento-me. Abro o livro na página onde deixei o marcador. Primeiro, antes de ter em atenção a leitura, penso no calhamaço que tenho em mãos, no desinteresse da sua capa paradoxalmente amarela, cor que mais atrai os olhos e que se vê iluminar desde o céu azul, e no período de uma semana que tenho para o ler, quer queira, quer não. Certo e sabido é que ler é coisa de que gosto, mas também o digo, se não for de livre vontade ao invés de ser prazer é martírio. Não me parece mau o autor, e se a Saramago deram prémio Nobel há que o ter em conta e talvez em razoável admiração. E se no seu vocabulário extensivelmente adequado e claramente refinado de tão variado eu me sinta cativado, não me parece que, nem por ser o Palácio de Mafra obra grandiosa, tão grande que se faz parecer maior que a própria vila onde se ergue, Baltasar e Blimunda possam hipoteticamente caír-me no interesse, nem ao de leve quanto mais de sobejo. E que voe a passarola! Que pelo menos admire eu algum padre, que dessa religião não me manifesto, mas de gente com boas ideias me vejo apoiante. Que voe e leve o soldado maneta e a sua amada esfomeada matinal com desculpas de que vê por dentro quando em jejum! Delírio se naquele tempo se conhecesse o raio X! Que voe como sei que voará, porque dos que convivo já mo foi dito. Sou pouco dado a romantismos, e se houver maneira de gostar da estória, que seja lida mais ironia e sarcasmo nela. Só dessa forma será possível contrariar tal aborrecimento incutido pela obrigação de estudar tal obra, que nem mesmo faz o sol milagres.
Por fim, concentro-me e, então, leio.


left by тιago às 01:41
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De Mafav a 31 de Maio de 2013 às 23:06
adoro a maneira como escreves.. simplesmente espetacular :)


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